Meu amor,
É engraçado, mas foi só quando cheguei ao Rio de Janeiro que percebi
se tratar de uma cidade portuária. Testemunhei idas e vindas e concluí
que o porto é um convite para o viajante chegar ou partir.
Permanecer nele é habitar esta intersecção entre o início e o fim.
Nesta tensão entre afeto e permanência revela-se a semelhança entre
o luto e a paixão. São dois vetores exatamente iguais, coreografados
indissociavelmente. Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação
definem, simultaneamente, as pulsões de vida e de morte.
Então procuro nas nossas cartas os versos dessa espera.
Nossas histórias de fantasmas.
Lembro-me de tudo o que gostaria de manter, mas a verdade é que
tenho uma profunda paixão em assistir ao seu desfazer.
Penso nos jardins de infância onde se formam os homens, e no meu
aniversário de um ano, quando minha mãe me vestiu de marinheiro.
Talvez seja este o meu destino: enquanto em casa, sonharei com as
promessas do mar, e enquanto no mar, sonharei com o útero da minha
casa.
Chegada e partida são os ventos que guiam minha deriva nos oceanos
formados por maternais lágrimas de saudade.
E durante toda a viagem escuto as sereias cantarem: “não me diga
adeus”.
-Guilherme Borsatto